Olhando alguns poucos dias atrás, Khorin jamais pensaria que a sua sorte poderia virar de forma tão drástica. Enquanto corria pelas ruas e becos de Veromon tentava entender o que fizera de errado para alertar a guarda.

A missão dada – sua primeira missão em uma capital – era simples e clara: coletar todo tipo de informações sobre o duque Albaran Ér, o duque traidor – como seu pai havia se referido a ele. Quem eram suas pessoas de confiança, com que tipo de gente andava, o que o povo comum pensava sobre ele e se algum membro da nobreza apoiava seus ideais; quais seriam seus próximos passos: para onde iria, onde ficaria, e claro, porque desejava a paz entre vallarianos e hurrgals.

Estas informações Khorin poderia conseguir com algumas perguntas certeiras e que provavelmente não levantariam nenhuma suspeita. Bastava seguir as recomendações de seus amigos e superiores.

Mas em algum momento, tudo dera errado e enquanto corria dos gritos dos guardas da cidade, tentava juntar as peças para encontrar seu erro.


Veromon é uma das sete capitais do reino vallaryano. É, assim como Zágoran, uma cidade que permite a entrada de hurrgals, pois o sangue desse povo circula misturado à cultura e à história da capital. O mesmo se deu com a capital Zágoran, no extremo sul do reino, onde a cultura hurrgal é ainda mais forte. Khorin não sabia e nem conseguia imaginar o motivo para que as duas capitais sulistas fossem mais tolerantes do que as outras com o seu povo. Sabia, porém, que ambas foram por muitos anos mal vistas pelas outras por isso, mas que também detinham um grande poder na política vallaryana: os portos.

Os portos de Veromon e Zágoran são os maiores do reino.

O rio Vallar, apesar de ser um grande rio, também possui percursos traiçoeiro, cheio de bancos de areias e rochas. Mas na altura das duas capitais, é mais largo e fundo, permitindo a transição de várias embarcações mercantis e servindo de porta de entrada para as nações visitantes.

Ambas as capitais são as principais portas de entrada do comércio interno do reino, sendo responsável por uma rígida fiscalização naval. Além do comércio, nos portos das duas capitais encontra-se a maior parte da fração de toda a frota marinha vallaryana. Ambas são divididas ao meio pelo rio, que passa por baixo de grandes pontes com vão gradeado, como enorme portões que impedem o avanço de embarcações não autorizadas.

Bolsh, tio de Khorin e responsável por passar todas as informações possíveis para ele e seus dois companheiros, fez um mapa abstrato da cidade.

Assim como o porto, além de ser dividida em duas alas – leste e oeste – a capital era também dividida em distritos. A cidadela, com o castelo do grão-duque, se localiza na ala oeste de Veromon e rodeada por três distritos nobres: o distrito alto, região em que as grandes famílias de nobres vivem; o distrito das artes, onde fica um anfiteatro – onde são feitas apresentações públicas de peças e anúncios importantes da nobreza – galeria de artes, com pintores, arquitetos e escultores que lá vivem, e uma arena de luta, para entretenimento dos cidadãos vallarianos durante festividades; o terceiro distrito localiza-se mais próximo ao porto oeste. O distrito do alto comércio, que atendia – como havia dito Bolsh – “às frescuras dos nobres”. Tecelões, alfaiates, ourives, entre outros do mesmo nível, eram os ocupantes deste distrito.

A realidade do outro lado do porto era muito diferente. Lá existem cinco distritos menores: o distrito do baixo comércio; o distrito militar, onde vivem os soldados que não fazem parte da nobreza, e suas famílias; o distrito naval, normalmente habitado por marujos, prostitutas e algumas famílias mais pobres de pescadores; o distrito baixo, habitado por vallarianos comuns; e o distrito hurrgal.

Ao entrar pela primeira vez na cidade, Khorin percebeu que haviam poucas diferenças entre os distritos hurrgal e vallaryano baixo. A principal rua da ala leste dividia os dois distritos. Do lado esquerdo de Khorin, estava o distrito hurrgal, que era claramente mais arborizado, com árvores descuidadosamente plantadas e robustas no meio das ruas, e pequenos jardins espalhados por sacadas ou nas laterais das ruas. Já o distrito baixo, à sua direita, era muito mais limpo, com bem árvores plantadas de forma ordenada, bem podadas, e jardins mais singelos do que os do outro lado, mas com casas maiores, no entanto tão bem cuidadas quanto às do lado esquerdo.

Khorin nunca havia entrado em uma cidade grande. Apenas ouvira boatos de conhecidos e jamais pudera imaginar que uma cidade de verdade fosse tirar o seu fôlego. Sentia-se como se tivesse visto uma garota nua pela primeira vez. Ou melhor, sentia-se como a garota nua em sua primeira vez. Sentia-se observado, exposto e vulnerável a todas as novidades a sua volta.

Sentiu um cutucão na costela e ouviu um sussurro próximo ao ouvido.

– Feche a boca e aja como se vivesse aqui, Pulga – disse um de seus companheiros, enfatizando o apelido dado para Khorin.

Rapidamente corrigiu sua postura. Percebeu que estava com a boca aberta e provavelmente com uma cara de idiota, enquanto olhava para a cidade.

– Vamos logo. Temos que chegar ao ponto de encontro o mais cedo possível – disse o seu outro companheiro. – Os internos são muito desconfiados e tendem a desaparecer se a mínima coisa estranha acontecer.

Os três seguiram por uma rua lateral, adentrando no distrito hurrgal. Eles formavam um grupo comum de três garotos hurrgals. O mais baixo, que o havia cutucado para que ele fechasse a boca, andava à sua esquerda. Seu nome era Tura e havia recebido o apelido de Sardinha, por parecer com o peixe com seus olhos arregalados, além fazer referência ao seu tamanho. Tura tinha a mesma idade de Khorin, mas era mais de dez centímetros mais baixo que ele, e bem mais atento também. O garoto parecia perceber tudo ao seu redor e movia-se de uma forma quase paranoica, como se temesse estar sendo seguido. Apesar de conseguir disfarçar melhor do que o amigo, também era sua primeira vez em uma cidade de verdade.

À direita de Khorin seguia o total oposto de Tura. Totalmente descontraído e com uma expressão quase de desinteresse, ou até mesmo de sono, o jovem Pushka tinha mais de um metro e oitenta e um peso maior que o normal, apesar de a maioria dos hurrgals serem de baixa estatura. Por conta disso não foi difícil arrumar o apelido de Barril para ele. Pushka era sem dúvida o mais experiente do grupo. Já havia participado de alguns trabalhos nos limites de Zágoran e já conhecia a capital Veromon.

Era ele quem guiava os companheiros pela cidade.

Khorin passou por tantas ruas que pensou que jamais conseguiria sair de lá sem a ajuda de Pushka, caso fosse deixado sozinho. Depois de mais um tempo de caminhada, pensou que talvez o próprio Pushka estivesse perdido, até que começou a sentir um cheiro ruim de peixe estragado e percebeu que os jardins e as bem cuidadas árvores iam ficando para trás.

– Chegamos no distrito Naval – disse Pushka. – Aqui a coisa fica mais séria. Muitos marinheiros vallarianos que descem o rio são metidos a valentões e procuram arrumar confusão com alguns hurrgals. Tentem parecer descontraídos, principalmente você, Tura. Parece que está fugindo da guarda popular.

– Até parece que você não estava borrando as calças na sua primeira missão, Pushka. – Retrucou o baixinho.

– Eu estava bêbado – disse o gordo, com um sorrisinho malicioso no canto da boca. – E meu nome é Barril.

Seguiram por algumas ruelas imundas e fedorentas até chegar a uma casa minúscula. Ela ficava entre outras duas construções maiores. A entrada era tão estreita que Khorin imaginou que seria impossível para seu amigo mais largo passar de frente. Se pegou rindo alguns instantes depois ao comprovar o fato.

O interior da casa era úmido e escuro. O fedor de peixe era mais fraco ali dentro, mas isso não mudava muito as coisas. Acho que eu nunca vou conseguir parar de sentir esse cheiro, pensou Khorin, de cabeça baixa e mais uma vez distraído. Terminou por dar um esbarrão nas costas de Pushka, que seguia a frente e olhou irritado para ele.

– Desculpe – disse ele.

Chegaram a uma sala onde havia alguns sacos de batatas, dois barris vazios no canto oposto à entrada e mais alguns caixotes na frente. Sentado em um desses caixotes e coberto por um casaco grosso de lã, estava um hurrgal careca, que olhava por uma janela minúscula para o lado de fora. Tinha a altura de Khorin e era tão magro quanto ele, no entanto com certeza era mais velho, pelas rugas no rosto.

– Whoa – disse o homem olhando para os três jovens, que mal cabiam na sala. – Pelos deuses, como você é gordo. Fechem a por… ou melhor, tentem fechar a porta. Quem está com as ordens?

Khorin deu um salto quando percebeu que era ele quem carregava as ordens de Bolsh. Esticou o braço entregando os documentos ao homem, que lhe retribuiu um olhar de desdém. A sala começava a ficar mais abafada e o cheiro de batatas começava a se misturar com o de peixe.

– Hm. Você que é o filho de Toker? Próxima vez que o encontrar diga que o amigo mais antigo dele sente muito por Pushka.

– Como assim? – perguntou Khorin. – Pushka está logo aqui.

– Estou falando do seu avô. Pelos deuses, você é lento não? – disse o homem enquanto lia as ordens, em um papel velho. – Já sei para onde vocês vão. – Disse enquanto rasgava o papel, uma raridade nos acampamentos hurrgal. – Primeiro quero deixar bem claro que nunca nos encontramos. Se me virem na rua, finjam que não me conhecem. Aliás, vocês não me conhecem. Eu diria nada de nomes, mas nosso amigo com cabeça de ovelha já deu com a língua. Dentro de Veromon eu não existo, estão me ouvindo? – Os três concordaram com a cabeça. – Olhem só para vocês: um gordo que chama mais atenção do que uma carroça em chamas no meio da rua, um magrelo que parece perdido em outro mundo e um baixinho paranoico que não para de olhar por cima do ombro. Parece que está escondendo alguma coisa, isso vai chamar a atenção dos guardas como uma fogueira atraindo mariposas.

– Ande logo com isso, interno. Quanto menos tempo passarmos aqui melhor para todos – disse Pushka.

O interno acenou com a cabeça.

– Pelo menos esse parece que não tem banha no lugar dos miolos. O seu alvo está na cidade. Do outro lado do rio – disse falando muito baixo, praticamente sussurrando as palavras. O ar abafado, os caixotes e as batatas cooperavam com a acústica da sala. Impossível ouvir qualquer coisa do lado de fora.

– Se tiverem coragem – continuou o homem – podem ir pro outro lado. Caso contrário sugiro que um de vocês permaneça aqui no distrito Naval. Dá pra ouvir muita coisa de marinheiros bêbados. Sem falar que as prostitutas hurrgals sabem de muita coisa. Os vallarianos parecem gostar de foder uma hurrgal e depois cair na conversa – disse rindo. – Mas cuidado com os marinheiros muito bêbados. Eles podem querer arrumar uma briga, e isso não seria agradável. Seria ótimo ir para o distrito das Artes. Todo mundo já está sabendo que o alvo de vocês vai fazer algum tipo de pronunciamento na Praça dos Artistas. O miserável rebelde mantém seus segredos muito bem guardados. É difícil se aproximar dele ou das pessoas próximas a ele. Tentem o mercado baixo, caso não consigam ir para o distrito das Artes. Sempre há um sujeito gritando as novidades que acontecem do outro lado.

– Mais alguma sugestão? – Perguntou Tura, nervoso para ir embora.

– Sim. Várias – disse dando um olhar enviesado para Tura. – Vá para à cidadela e bata na porta do alvo e pergunte o que ele vai fazer. Isso com certeza vai funcionar. Ou então entre no navio dele e pegue as informações da tripulação dele.

– Isso não parece uma boa ideia – sugeriu Khorin.

O interno ficou olhando para Khorin de boca aberta, tentando entender se aquilo fora sério ou uma piada. Desistiu depois de alguns segundos, fechou a boca com um estalo, respirou fundo, e voltou a falar.

– Há uma estalagem próxima à Praça-jardim, no centro do distrito Hurrgal. O nome dela é “Água D’ouro”. Não é a melhor estalagem do distrito, porém recebe vários visitantes de Zágoran e ninguém suspeitaria de vocês fazendo pergunta sobre o seu alvo por lá. Dentro do barril tem uma sacola com algumas moedas. Usem elas para comprar comida e uma estadia. Tentem se hospedar na Água D’ouro, pelo menos um de vocês. Mantenham-se discretos e tentem não morrer. Esperem alguns instantes antes de sair.

Dizendo isso, o interno passou um capuz sobre a cabeça e saiu a passos rápidos da casa.

Saíram da casa do interno e seguiram para a estalagem Água D’ouro, como o interno dissera. Pushka assumiu a frente, guiando-os por ruas desconhecidas até chegarem na estalagem. Conseguiram negociar com o estalajadeiro, que já aparentava conhecer Pushka, para que ficassem todos em um quarto pequeno por um valor razoável. Tudo parecia promissor e excitante.


A casa do interno deve ser por aqui perto, pensou Khorin enquanto virava uma esquina fedorenta no distrito Naval.

– Volte aqui, seu merdinha! – gritava o soltado que vinha atrás dele.

Khorin possuía a vantagem de ser mais rápido, leve e ágil, mas isso não era de grande ajuda quando não se sabia para onde ir.

Não seja burro Khorin, se você entrar naquela casa só vai sair carregado, pensou ele mais uma vez, descartando a casa do interno como refúgio.

Era noite e as ruas próximas às tabernas e puteiros estavam cheias de marinheiros bêbados e, bem, putas. Khorin tentava evitar o máximo possível encontrar-se com um grupo do primeiro tipo e lamentava não ter tempo de dar uma conferida no do segundo.

Virou em uma rua que levava para o distrito Hurrgal, ou pelo menos achava isso. Não poderia ter certeza, já que a lua cheia estava coberta por algumas nuvens e pelos prédios, mas isso não o fez mudar de ideia. Seguiu com o seu próprio plano de fuga desejando que o levasse rumo ao distrito Hurrgal.

Estava tudo muito tranquilo, pensava ele lamuriento consigo mesmo, enquanto virava em mais uma viela.


Logo cedo, em seu pequeno quarto da estalagem, Khorin, Tura e Pushka decidiram para que locais iriam.

Pushka ficaria na estalagem.

Como Khorin suspeitava, seu amigo já conhecia o estalajadeiro de outras missões, e ambos passaram parte do fim da tarde anterior discutindo qual tipo de cerveja era melhor. Khorin não prestara muita atenção aos detalhes, mas Pushka dissera que havia arrumado um trabalho temporário na estalagem e ficaria de olhos e ouvidos abertos para qualquer notícia referente ao duque Albaran.

Tura havia decidido seguir o conselho que o interno dera e manter-se o mais discreto possível. Iria sair para procurar um trabalho no mercado baixo e tentar arrancar alguma informação de arautos e comerciantes. Havia decidido isso na noite passada quando ouvira um vallaryano rodeado de hurrgals dizendo que o mercado baixo devia ser o local mais pacífico de Vallarys, com exceção das brigas pelos clientes. O tão desconfiado Tura passara tarde e noite observando os locais, tentando agir como eles, ser um deles, e de manhã já parecia outra pessoa.

Quem me dera ter um talento desses, pensava Khorin com inveja.

Os dois amigos pareciam bem confiantes e centrados, enquanto ele se perguntava o que estava realmente fazendo ali. Teria aceitado a missão só para provar ao seu pai que era capaz? Isso seria extremamente estúpido. Sabia que era ágil e possuía uma habilidade sem igual com as mãos, ao fazer malabarismos e truques de ilusionismo, além de ser um dos melhores – não, definitivamente o melhor – escalador de seu clã. Mas como isso poderia se aplicar à sua missão?

Pushka possuía a experiência, a lábia, a força e o carisma. Tura era extremamente observador, furtivo e, apesar de toda a ansiedade, sabia que era capaz de fazer a tarefa.

Começava a se achar um peso morto para o grupo e para o clã. Uma verdadeira decepção para o seu pai. Por algum motivo isso o incomodava. A aprovação de Toker nunca fora uma coisa da qual fizera muita questão, mas agora ela parecia ser a coisa mais importante do mundo. Afinal de contas, seu pai era o líder do clã Águias Vermelhas, um dos principais clãs hurrgals que lutavam pelos seus direitos a territórios vallarianos.

Desde que nascera Khorin ouvia essa história, de que vallarianos e hurrgals viveram em harmonia por muito tempo contribuindo em vários avanços para o reino. Mas, algum tempo depois os vallarianos passaram a escravizar e abusar dos hurrgals. Os hurrgals desde então se levantam contra os vallarianos e lutam pelos direitos de igualdade que uma vez já tiveram, causando a presente guerra civil vallariana.

– … ouviu, Khorin? – Pushka terminara de falar e estava lhe fazendo uma pergunta.

– O que? – Perguntou, provocando uma troca de olhares entre os outros dois. Antes de ouvir algum sermão, já tinha uma desculpa na ponta da língua. – Vocês ficam falando baixinho e eu estou morrendo de sono, o que você disse?

– O distrito Naval – disse Tura. – A gente chegou à conclusão de que lá é o último lugar possível, mas você tem que ter atenção para os marinheiros vallarianos que não gostam de hurrgals.

– Ah, claro. Vou tentar me manter longe deles e mais perto das putas.

– Estejam de volta até o pôr-do-sol. Se vocês forem pegos por algum motivo, não digam absolutamente nada. Simplesmente digam que estava alojado aqui e contem a história que eu contei ao estalajadeiro ontem à tarde. Nada de nomes. Nós somos Barril, Sardinha e Pulga.

Dando fim à pequena reunião, Pushka abriu a porta desceu para se encontrar com o estalajadeiro. Alguns momentos depois, Tura descia com uma postura totalmente diferente do dia anterior. Isso teria calado a boca do interno, pensou Khorin.

Sendo o último a sair, deixou a chave no balcão.

– A chave de nosso quarto, Barril. – O grandalhão respondeu com um piscar de olho.

Khorin tentava lembrar o caminho que fizera quando fora para o distrito Naval no outro dia. Passou um bom tempo fazendo isso e evitava perguntar aos outros o caminho por medo de perguntas que não soubesse responder. Tentava manter-se atento a todos os detalhes e percebeu que isso era mais difícil do que parecia, mas também não era algo impossível.

Lembrando-se do mapa feito por Bolsh, seguiu em direção ao oeste. Em direção ao rio. Logo começou a sentir a falta das árvores no meio das ruas. Sentia-se exposto enquanto percorria algumas ruelas. Estava sempre evitando as pessoas que passavam nas ruas largas por medo de provocar algum valentão, e quando virava uma esquina que levava a uma dessas ruas, ouviu os gritos.

– Sua puta! – Gritou um homem.

– É exatamente isso o que ela é – respondeu outro, com a voz mais fina, e tranquila.

– Ladra das trevas! – Voltou a reclamar o primeiro homem.

– Eu não roubei nada, seu pedaço de merda! Você não tem nada de valor que valha a pena roubar! – Gritou uma mulher.

Nesse momento, Khorin botou apenas a cabeça pela esquina e ficou observando a cena.

Na porta de um casarão estavam um homem esguio e de cabelos louros presos num coque, e uma mulher ruiva e baixa com o cabelo na altura dos ombros. À frente deles, sentado de bunda no chão, estava outro homem, com o cabelo mais curto, mas tão louro quanto o que estava na porta. Acima da porta podia-se ler “Sereias do Vallar”.

O homem de coque e junto à porta se revelou o homem de voz mais fina.

– Se você tem alguma queixa contra ela, procure a guarda e venha com eles aqui. Vocês vão poder revirar essa espelunca de cabeça para baixo até achar seu maldito pingente de merda. Mas se você sequer tocar nessa mulher mais uma vez, terá que pagar em ouro por isso, me entende?

– Eu vou voltar – disse o homem enquanto se levantava. – E não vai ser sozinho.

– Vá pela luz, marinheiro, e reze para que Mitikr iluminar sua mente. Você não vai querer se meter com o pessoal honesto deste distrito.

O homem olhava para trás enquanto bamboleava na outra direção e reclamava alguma coisa que Khorin não conseguia ouvir por conta da distância. Tanto a puta quanto o homem esguio voltaram para dentro do prédio de um andar e fecharam a porta. Khorin, tomado por um impulso, tomou uma decisão.

Bateu de leve na porta e um outro homem, com barba malfeita, poucos dentes, mas definitivamente vallariano, perguntou o que ele queria.

Khorin não sabia o que falar de cara e depois de alguns segundos de boca aberta simplesmente balbuciou que queria falar com a mulher hurrgal. Antes que o homem pudesse responder qualquer coisa, a mulher que estivera na porta à poucos momentos escancarou a porta. Já preparava algum xingamento, mas se deteve quando percebeu que não era quem ela esperava.

– Quem é você? E o que você quer? – Perguntou ela, empurrando-o para o lado de fora.

– Meu nome é Pulga. E eu quero falar com você.

– Volte à noite. Não costumo trabalhar de dia, muito menos tenho interesse de conversar com garotos.

Antes que a mulher conseguisse fechar a porta, Khorin botou o pé na soleira, impedindo que ela fechasse.

– Não é nada disso, eu só quero conversar – Tentou empurrar a porta para dentro e, em resposta, o grandalhão deu-lhe um empurrão, desta vez mais forte e fazendo-o cair de bunda na rua, da mesma forma que o vallariano antes dele.

– Aquele palhaço voltou? – disse o homem da voz fina, vindo de dentro do prédio. Quando viu Khorin no chão, perguntou o que estava acontecendo.

– Esse moleque tentou entrar à força para falar com a Shoba depois de ela tê-lo mandado embora – disse o grandalhão, quem Khorin imaginava ser o porteiro do lugar.

– O que você quer, garoto? – perguntou o homem de voz fina.

– Eu só queria falar com Shoba, não é esse o nome dela? – disse enquanto se levantava.

– O que, exatamente, você quer falar com ela?

– Eu sou novo na cidade e estou procurando trabalho. Ela foi a primeira pessoa hurrgal que eu vi por esse distrito, pensei que pudesse me ajudar – disse pensando rápido.

O homem de voz fina olhou-o da cabeça aos pés enquanto se levantava, avaliando-o. O que via era um garoto hurrgal, isso estava claro por conta de seu cabelo muito vermelho. Era mais alto que o normal – e provavelmente cresceria mais um pouco – magro, sujo da lama da rua, mas fora isso mais limpo do que se espera de um vagabundo, com o cabelo bagunçado caindo no rosto e cobrindo parcialmente olhos muito verdes.

– Vamos entrar, não estou no ânimo para conversar debaixo do sol. Marc, tranque a porta, coma alguma coisa e vá descansar, seus olhos parecem duas bolas de sangue de tão vermelhos. Shoba – disse para a mulher que encontrava-se na metade da escada para o primeiro andar – não terminamos nossa conversa. Espero que tenha dito a verdade sobre aquele pendente.

A mulher revirou os olhos e continuou subindo as escadas, sem parecer dar muita importância para o que o homem falara.

Marc, o porteiro, esperou Khorin entrar e trancou a porta com uma chave grossa e duas tábuas de madeira, uma em cima e outra em baixo.

A decoração dentro do prédio contrastava com todo o distrito Naval.

A janelas eram cobertas por cortinas de tecidos brancos finos sobrepostos por um tecido mais carmim grosso. A mobília era bem cuidada e brilhava à luz de velas aromatizantes que deviam ter sido usadas para iluminar o ambiente na noite passada.

Duas mulheres, vestidas com uma saia longa que deixava à mostra suas coxas e com blusas muito leves que ficavam penduradas por um ombro, expondo a maior parte de um seio, não deixava dúvidas de que aquilo se tratava de um bordel.

Khorin nunca havia entrado em um bordel antes, mas já ouvira as histórias de amigos mais velhos. Não costumava ficar com cara de idiota perto de uma mulher. Os hurrgals que viviam nos clãs viam a nudez como uma coisa muito natural, mas aquelas duas mulheres, que o olhavam com curiosidade depois de ouvir o tumulto do lado de fora, tinham alguma coisa a mais que o atraia de uma forma quase primitiva. Talvez fossem os sorrisos maliciosos que elas lançavam para ele, ou a forma que se postavam junto ao bar. Vendo que o haviam deixado sem jeito, as duas mulheres começaram a rir baixinho e voltaram a comer um pedaço de pão que estava sobre o balcão do bar.

– Sente-se garoto – disse o homem de voz fina e ele obedeceu. – Qual o seu nome?

– Pulga. E o seu?

– Logen, e eu que faço as perguntas aqui. Que tipo de trabalho esperava encontrar aqui? Sabe que isso é um bordel, não é? Você por acaso tem interesse em marinheiros vallarianos?

As duas mulheres que comiam no balcão deram outra risadinha, deixando Khorin ao mesmo tempo encabulado e irritado.

– Não – disse ele, muito enfaticamente e lançando um olhar para as duas mulheres que deram mais algumas risadinhas e voltaram a comer.

– Então me diga, como acha que poderá trabalhar aqui? – Perguntou Logen, pela segunda vez.

O jovem não sabia o que responder, por isso permaneceu em silêncio, encarando seu anfitrião, que tinha um olhar calmo e uma expressão compreensiva.

– Veja, garoto. – disse Logen – Você não é o primeiro, e duvido que será o último hurrgal a tentar uma vida nova nas capitais do sul, mas a questão é que você não é interessante para nós. Os nossos clientes conseguem tolerar as garotas como Shoba, e acho que não preciso explicar o porque, mas muitas vezes eles ficam bêbados e arrumam algum tipo de confusão com outros hurrgals que aparecem por aqui. Se eu deixar um garoto hurrgal à vista, ou sequer fazendo qualquer trabalho por aqui, só vou ter problema nos negócios. Não me entenda mal, não é uma questão pessoal. Se você quiser procurar por algo, devia tentar as docas. Apesar de você não ter um porte físico favorável, um par de braços e pernas sempre é bem vindo para carregar sacos e outras mercadorias. Se precisar comer alguma coisa, fique à vontade para comer um pouco dos restos que está na cozinha. Vai precisar da energia. O Marc não vai causar problemas. Não é mesmo Marc? – A pergunta feita em alto e bom som teve um grunhido vindo da cozinha como resposta.

Khorin estava de pé e já chegava a porta da cozinha, quando se virou.

– A Shoba… – começou Khorin, mas foi rapidamente interrompido pela palma da mão erguida de Logen.

– Esqueça a Shoba. Ela só trabalha pelos interesses dela. No máximo pelo funcionamento da casa, mas acredito que ela só faça isso porque realmente precisa daqui. As docas. É lá que você pode arrumar alguma coisa.

– Não fique prometendo trabalho para qualquer um, meu caro Logen! – disse uma voz às costas de Khorin, que entrava na cozinha e tomava um lugar à mesa, afastado do porteiro mal encarado.

Um homem magro, com um casaco azul descia as escadas enquanto falava.

– Gracon “Príncipe” Erdal! – disse Logen, colocando-se em pé para cumprimentar o cliente com um sorriso e braços abertos. – Se eu soubesse que ainda estava na casa, teria ordenado que levassem seu café da manhã na cama.

– Não se preocupe com isso, meu amigo. Não pretendia levantar tão tarde, mas quanto mais endurecido fico pela idade, mais macias são as coxas de suas garotas.

Enquanto falava, lançava uma piscadela para as duas mulheres no bar, que sorriram de volta. Logen respondeu com um sorriso, e continuou conversando trivialidades com o cliente, no entanto a atenção de Khorin voltava-se para a comida na mesa.

Havia uma cesta com algumas maçãs, peras, duas frutas amarelas com um formato comprido que nunca vira antes, e mangas. Ao lado da cesta tinha um pedaço de pão um pouco duro, e carne de porco cozida e fria.

Khorin pegava uma maçã na mão quando o tal do “Príncipe” entrava na cozinha.

– Bom dia para os senhores. Se importam que um nobre presunçoso divida a mesa com vocês?

Sem esperar uma resposta, ele se sentou de frente à Khorin, que estava estatelado com um pedaço de maçã na boca.

Esse homem é um nobre vallariano? Pensou ele. Podia sentir a fome indo embora enquanto o pedaço de maçã parecendo inchar em sua boca. Um dos tão odiados nobres vallarianos, os maiores inimigos de seu povo, sentava-se a sua frente sem parecer dar a mínima importância para o fato de ele ser um hurrgal.

– Fique à vontade, majestade – respondeu Marc, com tom gozador.

– Fico honrado, nobre vassalo – disse com o mesmo tom. – Fico ainda mais honrado com a presença ilustre do jovem hurrgal à minha frente. Uma verdadeira obra de arte cômica de Paran. Está ficando muito amigável com os hurrgals, meu caro Logen.

– Sou uma alma pacífica no meio de tantas violentas senhor – disse Logen da outra sala. – Me simpatizei pelo rosto do rapaz.

– De fato, o jovem tem um rosto simpático – observou o “Príncipe” encarando Khorin com um sorriso divertido. – É você que está procurando trabalho nas docas?

Fazendo esforço para engolir, e tentando não enrubescer, Khorin balançou a cabeça em concordância. Fique atento Khorin, pensava ele, este homem pode querer te matar ou te prender a qualquer momento. Droga, eu devo estar com a cara toda vermelha.

– Está se sentindo bem, garoto. Você está vermelho. Por acaso não está engasgando não é? Já vi homens sobreviverem à ondas gigantes e feras marinhas, para em seguida serem vencidos por uma pequena uva.

– Não seria de todo ruim para esse aí – disse Marc, com o mau humor.

– Não diga esse tipo de coisa, Marc – repreendeu o “Príncipe” – Logen estava me falando que este aqui abandonou o clã e está procurando construir a vida sozinho. Certo? Seu nome é Pulga mesmo? Isso não pode ser seu nome de verdade. Por acaso abandonou o nome de sua família?

– Sim! – exclamou ele rapidamente, e correu para se explicar em seguida. – Quando abandonei meu clã, abandonei minha herança, minha família, e meu nome. Pulga é meu nome agora.

– Jovem Pulga. Não combina com você. Você é um pouco mais alto do que o normal para um hurrgal, não é? E muito magro também, apesar de não parecer de doença. Não se acanhe, pode voltar a comer. Se você fosse parte de uma tripulação, provavelmente te chamariam de Vareta. Ou até de tocha. Você lembra uma tocha. Magro, comprido e seu cabelo parece fogo.

O comentário tirou uma risada grave do peito de Marc, o que surpreendeu Khorin. Igualmente surpreendente foi quando percebeu que estava sorrindo junto com os outros dois.

– Como você deve ter ouvido – continuou o nobre – meu nome é Gracon Erdal, e meu nome no mar é Príncipe.

– Nome no mar? – perguntou Khorin.

– Sim. É uma tradição antiga dos marinheiros. Isso foi herdado dos hätuists. Não usamos nossos nomes verdadeiros em alto mar, pois existem criaturas à espreita, que podem roubá-los e trazer maldições para nossas vidas. Por isso, se você for ao mar, jamais use seu nome verdadeiro, ouviu Marc?

– É mais provável você me ver fazendo amizade com o rei dos hurrgals do que me ver em alto mar – respondeu o porteiro.

Gracon riu sobre o comentário, dando tapinhas de leve no braço de Marc.

– Mas me diga, jovem Pulga, porque abandonou seu povo? Cansou da ideia de guerrear eternamente com um reino inteiro?

Khorin recebera instruções de como responder esse tipo de pergunta: porque está aqui? Porque está longe de seu povo? Deveria saber como proceder, mas distraidamente respondeu a mesma coisa que já discutira várias vezes com seu pai.

– Acho que a guerra é problema dos velhos. Se não nos querem aqui então porque brigar por este lugar? Melhor procurar um outro lar, não é mesmo?

– Mas e quanto a sua herança? Ao direito dos hurrgals de ter um território pelas anos e gerações de aliança com os vallarianos?

– Eu não entendo nada disso senhor. Como eu falei, os nossos ancestrais fizeram essa guerra, porque nós temos que lutá-las? Lá de cima das montanhas é possível ver que o mundo é muito maior do que isso. Porque morrer para viver com um povo que não quer nada conosco?

O nobre vallariano arregalou os olhos e fez uma expressão que indicava uma surpresa legítima.

– De todos os hurrgals que eu conheci acho que jamais tive uma resposta dessa. Surpreendente, não é mesmo Marc? Normalmente as respostas que eu ouço são “fui exilado”, ou “prefiro a vida nas cidades”. E eu conheço muitos hurrgals. Mas acho que faz sentido para os mais jovens pensar dessa forma. Deve ser horrível crescer em meio ao que vocês chamam de guerra, não é mesmo?

– Como assim, o que chamamos de guerra?

– Digo isso pelo o que os outros hurrgals que conheci dizem, mas a vida nos seus clãs são bem miseráveis não é mesmo? E enquanto vocês passam por tantas dificuldades, as pessoas nas capitais não sentem nada. Pelo menos não aqui no sul. As capitais do norte parecem sofrer mais com o assédio de vocês. Tudo isso é muito triste, mas está longe de ser uma guerra de fato.

Os três continuaram a comer em silêncio por um tempo. Os olhos de Khorin não saiam do nobre vallariano, no entanto. A vida toda ouvira dizer que os nobres eram presunçosos e autoritários. E completamente intolerantes aos hurrgals. E o primeiro nobre que via em sua vida se mostrava contrário a todos esses ideais.

Isso fez com que se sentisse um pouco mais à vontade para fazer algumas perguntas.

– Você é nobre mesmo?

– Ainda estou curioso – disse ignorando-o completamente. – Porque Pulga?

– Bem, os meus amigos dizem que eu sou ágil como uma pulga, por isso o nome. Você é mesmo um nobre? – tentou outra vez.

– Interessante. Qual era o seu antigo nome, e de que clã você veio?

Khorin sentiu mais uma vez como se sua garganta estivesse fechando, mas desta vez respondeu conforme o planejado:

– Daleko syn Nikto, do clã Punhos de Pedra.

– Daleko. Gosto de coma soa esse nome. Nikto devia ser o nome de seu pai não é mesmo? E sim, eu sou um nobre. Mas de uma casa pequena, que já teve uma influência maior na história de Veromon.

– E você trabalha? Achei que os nobres vivessem como reis.

– Nem todos os nobres são fadas que ficam dentro de seus castelos reclamando que seus chás frios poderiam estar mais doces. Alguns de nós trabalham duro para manter o nome da família.. Meus irmãos preferem essa vida de fada. Não perdem a chance de lamber a merda das botas de pessoas mais importantes. Eu tomo conta de negócios mais importantes.

– E você trabalha nas docas? Será que poderia me arrumar um trabalho por lá?

Gracon o penetrou com o olhar, sem tirar o sorriso do rosto. O ar pareceu pesar um pouco mais, e o instinto de Khorin dizia que ele havia pisado na bola. Deixara alguma coisa escapar, ou chamara atenção demais pedindo para trabalhar para um nobre vallariano.

– Tá bom. – Disse simplesmente enquanto se levantava. – Você pode vir trabalhar comigo nas docas, mas eu vou embora em três ou quatro dias. Depende da minha mercadoria, sabe.

– Mais um hurrgal para sua tripulação, Príncipe? Daqui a pouco vão dizer que está juntando um grupo de piratas – disse Marc.

– Ora, Marc. Se eu quisesse piratas de verdade eu contrataria hätuistshs, não hurrgals. E ele não vai integrar a tripulação. É necessário muito mais tempo do que uma conversa durante o desjejum para conseguir minha confiança. O negócio é o seguinte, Daleko – disse com um tom sério e sóbrio, diferente de qualquer coisa que tenha falado antes. – Você vai trabalhar para mim ajudando meus tripulantes a carregar caixotes, e com qualquer coisa que meu imediato mandar. Eu não me importo se você é hurrgal, vallariano, brinealense, ou seja lá o que for. Se você fizer o seu trabalho direito, somos amigos. Se você pisar na bola comigo, vai para a rua. Se você arrumar qualquer tipo de problema, se roubar, se abusar de alguma garota de rua, ou se pegar briga com algum vallariano por essas questões nacionalistas estúpidas, é bom que você seja realmente ágil como uma pulga.

A primeira reação de Khorin foi querer xingar Gracon de alguma forma. Ele podia tê-lo tratado bem até então, mas quem ele pensava que era para falar com ele daquele jeito?

Conseguiu manter-se no papel, principalmente ao se dar conta de Marc olhando para ele. Isso é pela missão, é pelo clã. Se acalme, Khorin. Percebeu que estava de pé, e com os punhos fechados.

– Sim senhor – conseguiu dizer. – Você pode confiar em mim para o trabalho. Eu só vou precisar de comida e um lugar para dormir à noite.

– Ótimo – disse Gracon, voltando ao seu sorriso. – Isso tudo será resolvido. Você poderá dormir com o resto da tripulação, isso é o de menos. E a comida também é garantida. Mas aprenda rápido. Agora se já terminou, me acompanhe. Ninguém na rua vai mexer com você se estiver ao meu lado.

– Logen, meu caro! – disse ao chegar à outra sala – Estou de partida, mas garotas não percam a esperança. Esta noite estarei de volta.

As garotas se despediram e provocaram a cabeça de Khorin com as promessas feitas à Gracon durante sua despedida.

– Até mais tarde, “Príncipe”, e tenha um bom dia – respondeu o homem de voz fina.